quinta-feira, abril 27, 2006

quarta-feira, abril 26, 2006

Era madrugada. 4 da manhã, suponho.
Desisti do rodopio estéril que me faria dormir. Levantei-me. Precisava não sentir.
Vontade inglória essa, que as palavras ditas pairavam por todo o lado.

De repente, com uma nitidez cortante vi rostos de outro tempo. Caras que passaram sem deixar marca, como quase todas.
Senti a irremediável verdade da solidão que embala a nossa existência e o vazio tornou-se esmagador de tão verdadeiro.

Ao caminho, àquele que se redefine a cada segundo, que a cada momento passado foi um futuro possível a desvanecer-se, há quem lhe chame vida.
Fica sempre a dúvida de como tudo seria se tivesse sido diferente. Se o caminho tivesse sido outro, se a variável da equação tivesse sido outra, proporcionando outro resultado.

Sós. Querendo não estar. Obrigando-nos a ser felizes à força para não nos deixarmos morrer no tédio de estar só, conosco. O medo terrível do tempo que a solidão proporciona para nos pensarmos.
E preferimos não estar a estar sós. Preferimos rodear-nos de manequins inertes, damas e cavalheiros de companhia aos quais só temos que sorrir para nos sentirmos menos... sós.
Triste existência a nossa.

Como num moinho de água, nas nossas mãos como pás, escorre sempre gente cuja forma permanece a mesma. No fundo a sua passagem indelével enche-nos os dias para que o tédio seja apenas uma palavra.
Pelo caminho dão-nos também golpes, secos, no estômago. Desses guardamos a memória da forma do punho cerrado que um dia nos procurou.
Eu guardo a marca que fica no corpo e gosto do travo metálico de sangue na boca. Sempre ajuda a não esquecer o tempo que passou, que foi lá atrás.

Vontade de correr ao lado do tempo. Ido. Futuro. De não permanecer aqui, de não correr para trás, de não alcançar o que está à frente. Ficar. Abraçar cada partícula e existir num vazio temporal que se prolongue no momento. E que tudo pare e que eu não seja. Por oposição a mim.

Cimente-se então a mentira que nos tolda a vista e que nos põe um sorriso nos lábios. Agarrêmo-nos então às "verdades nossas" em que habitamos. Talvez o caminho seja mais rápido assim.

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"E a suprema glória
disto tudo, meu amor,
é pensar que talvez
isto não seja verdade,
nem eu o creio verdadeiro"
bernardo soares

domingo, abril 23, 2006

quarta-feira, abril 19, 2006

dear reindeer: it makes sense to me also!

Everybody makes mistakes
but i feel alright when i come undone
you are not making me wait
but it seems alright as long as something's happening
i try to make you late
but you fighting me off like a fire does
you try making me wait
but it feels alright as long as something's happening

get your payments from the nation
for your trials and tribulations

you try to make me wait
you come around when it's come undone
everybody makes you late
and it's never you because you're always thinking
i try making you wait
and give you me some like you give it good
everybody makes mistakes
but it seems it's mine that always keep on stinging

get your payments from the nation
for your trials and tribulations

you try making me wait
but you come undone when you come undone
everybody makes mistakes
but it's always mine that seem to keep on sticking

get your payments from the nation
for your trials and tribulations

A Intensidade Sempre Diferente que Caracteriza a Vida


Não posso conceber o homem independente da sua intensidade. Basta ler um tratado de psicologia para sentir quanto as nossas ideias gerais mais penetrantes se deturpam quando queremos empregá-las para compreender os nossos actos. O seu valor desaparece à medida que avançamos na nossa procura, e é então fatal o choque com o incompreensível, com o absurdo, quer dizer com o ponto extremo do particular. A chave deste absurdo não será a intensidade sempre diferente que caracteriza a vida?
Ela é afectada pela nossa vida voluntária, consciente, e pela nossa vida mais oculta, feita de sonhos e de sensações secretas que se desenvolvem em absoluta liberdade. Quer um homem sonhe ser rei ou amante feliz, isso não altera em nada os seus gestos quotidianos; mas se um amor, a cólera, uma paixão ou um choque o desamparam, como gestos de outrem poderão repercutir-se nele com força ou fraqueza, conforme ele estiver exaltado ou deprimido!

André Malraux, in 'A Tentação do Ocidente'

quinta-feira, abril 13, 2006

So, let's all go to Quiaios beach!
Cada indivíduo não pode chegar até si mesmo senão através dessas três unidades a que pertence: o mundo, aquela das cinco partes do mundo onde está a sua terra, e a sua terra.
A terra de cada indivíduo não está limitada pelas legítimas fronteiras físicas e políticas do seu próprio território, é além disso um pedaço determinado de uma quinta parte do mundo inteiro. E o indivíduo está tão longe de si mesmo que para chegar até si tem primeiro que dar a sua volta ao mundo, completa, até ao ponto de partida. E todo aquele que queira encontrar dentro de si mesmo a sua própria personalidade, ficará romanticamente sozinho no meio das multidões, na mais terrível solidão de todos os tempos, uma solidão onde o próprio deserto está cheio de arranha-céus e as ruas inundadas de gente!
...
O indivíduo nunca pertenceu a si mesmo.
...
O destino não é coisa que se saiba pelas sinas, nem obra do acaso, nem artes para adivinhos ou leitores de palmas de mão, nem nada que se modifique com caprichos da fatalidade. O destino de cada indivíduo neste mundo está por cima do seu próprio caso pessoal.

Almada Negreiros, in 'Ensaios'

quarta-feira, abril 12, 2006

Já não ía ao Porto há imenso tempo. Eu, "moça" do Sul, sempre fui muito aversa à zona a Norte do Tejo ... reticente, melhor vistas as coisas.
Cidade confusa e escura e de gentes "particulares". Não que outras cidades não tenham essas pessoas "bizarras", mas aquelas, as do Porto só podiam ser do Porto.

Tão recortado o casario e as ruelas como o próprio dia, tão inesperada a ida como a volta, a cidade vai sempre lembrar-me do dia em que me defini e me encontrei. Nas ruas senti unidade e todas as ideias se tornaram claras.

Se posso ser o desejado por que raio me contento com ser aquilo que é possível estilo tapa buracos?

Que a clareza chegue. Tarde, mas que chegue!!
Coimbra por trás. Sempre achei que devia haver algo de muito errado numa cidade em que os estudantes gostam de andar vestidos à padre. Passam alguns, negros e poeirentos. Uma cidade cujas livrarias na baixa são inimagináveis de provincianas, escuras, mal abastecidas, quase sem livros estrangeiros. Apenas o Direito é rei e senhor, tudo o resto leva à pergunta: como pode uma cidade universitária ter livrarias assim? Tudo triste, baço, esquecido da "modernidade" como agora se diz.

Não fui eu que disse, nem sequer subscrevo algumas ideias sobre a dita Lusa Atenas, mas Coimbra, no meio de virtudes e defeitos comuns a tantos outros "aglomerados de gentes", parece estar encostada a um tempo que passa devagar.


O provincianismo não é uma característica específica desta cidade. Quero crer que é antes uma particularidade nacional. Mas Coimbra, por pretenciosa, sente-se mais provinciana. Não por si, mas por muitos que a habitam. Seja pelo fechamento prolongado em si, seja pelo geografia que ocupa, enterrada no meio do país é o resultado de uma gestão de vistas curtas, ao longo dos tempos.
Eu gosto dela... de qualquer maneira.

sexta-feira, abril 07, 2006

spinning head

Álcool e trabalho: bem vistas as coisas, são dois conceitos que não se devem misturar!

domingo, abril 02, 2006

So, are you Louise's boyfriend?



- No.
- Oh, right.



- What, you're just, like, a mate?
- Primate.
O Paraíso, aquele, o da Holly Bible, materializa-se numa enorme seara de trigo. E nela eu corro e o vento trespassa-me os cabelos, e Sol inunda-me a alma.
O meu imaginário infantil é preenchido por searas de trigo. Ainda hoje me imagino a correr entre elas, com as espigas a tocarem-me o corpo... douradas!!! E um Sol de meio-dia a iluminar-me a alma.

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Por estranho que pareça lembra-me uma música do Kozelek...

Time as I've known it, it doesn't take much time to pass by me.
Minutes into days, turn into months, turn into years, they hurry by me.
Still I love to see the sun go down, and the world go around.

Dreams full of promises, hopes for the future, I've had many
Dreams I can't remember now, hopes that I've forgotten, faded memories.
Still I love to see the sun go down, and the world go around.

And I love to see the morning as it steals across the sky.
And I love to remember, and I love to wonder why.
And I hope that I'm around, so I can be there when I die, when I'm gone.

I hope that you will think of me in moments when you're happy, and you're smiling.
And that the thought will comfort you on cold and cloudy days, if you are crying.
And that you'll love to see the sun go down, and the world go around, and around and around.


By the way ... gosto de ti ...