segunda-feira, junho 06, 2005

«1. Toda a gente devia ter o direito a ter o que precisa.
2. Toda a gente devia ter o direito de escolher o que é que quer.
3. Toda a gente devia ter o direito a ser amado.
4. Toda a gente devia ter o direito de ficar muito perto das pessoas que ama.
5. Toda a gente devia ter o direito a que aqueles que amam saibam sempre quando precisa precisam deles.
6. Toda a gente devia ter o direito de se atirar de um muro de 50 metros de altura e ter em baixo quem o segure.
7. Toda a gente devia ter o direito a ter irmãos para sempre.
Ninguém tem o direito de tirar esses direitos a ninguém, mas este filme já não é sobre isso.»
Teresa Villaverde sobre o filme "Três Irmãos".

O Três Irmãos é, sem dúvida alguma, um dos filmes que mais me marcou. Talvez tenha sido porque o vi numa idade de transição (aos 18 anos), pela fragilidade emocional que apresentava na época... não sei. Sei que o vi uma vez e que nunca me consegui desprender de pequenos pormenores de que o filme está cheio. Lembro-me da voz de uma criança que ao longo de todo o filme vai sussurando perguntas a Maria ( que é a personagem principal): " Maria, o que é o amor?", " Maria, o que é a morte?"; lembro-me da fragilidade que esconde toda a força de Maria; lembro-me da força que Maria tem para unir os dois irmãos a ela, que no fundo é um monte de cacos.
E ninguém repara na Maria quando ela pede ajuda.

Mas o motivo pelo qual escrevo prende-se com outro filme. Um filme cujo trailler me despertou sensações que me lembram o filme da Teresa Villaverde : Adriana, da Margarida Gil (diz o Jorge que ela foi companheira do César Monteiro...)
No trailler pouco se percebe do filme. Ana Moreira é Adriana, menina insular que chega à capital e quer ser (literalmente) fecundada.
O que atraíu no trailler foi a imagem de Lisboa que transmite, misto de decadência urbana a transpirar ruralidade. Tem o travo estético dos filmes dos anos 90 (como A Caixa- Manoel de Oliveira, ou Três Irmãos- Teresa Villaverde) onde as juventudes retratadas são cinzentas e existêncialistas, retiradas à terra de origem e despejadas no meio da confusão citadina, à procura de qualquer coisa que alivie o sofrimento do ser-se vivo.
É a radigrafia da Lisboa dos becos onde há fado e há miséria, onde há aldeias do interior, terras das ilhas e lugares do pais perdidos no meio da cidade.
É a Lisboa das solidões, aquela que aparece nos roteiros e é vendida aos turistas com o selo do que é típico.
Poucos filmes conseguem "mesmo" pintar a cidade como ela me (a)parece aos olhos e como eu a percebo. Uma guitarra ao fundo, uma rua onde prostitutas e crianças se passeiam em pleno dia, os cães que ladram e o ar é pesado e fétido.
Mas o melhor... o melhor é mesmo perceber a beleza de tudo isto.

Se me desiludir, Adriana valeu por me trazer o sabor das gentes que se escondem nas ruas de Lisboa.