"Apagas a luz. Deitas-te a meu lado. Sinto, mais do que vejo, a presença do teu corpo.
Estás quente.
Os meus olhos habituam-se à penumbra. Semicerrados, observam-te no acto de te despires. Primeiro, a blusa branca. Botão a botão, os teus dedos ágeis, lestos, desapertam o tecido e aguilhoam o meu desejo. Depois as calças. Levantas os joelhos, baixas os braços. Num gesto largo e hábil, libertas-te da roupa como uma borboleta de um casulo. Bates as asas, estás nua. Beijo-te.
Percorro os teus lábios. Provo as tuas pálpebras. Aliso o teu pescoço. Desço ao teu peito. A minha boca dardeja, húmida, procura agora a saliência do teu mamilo. Encontra-a. O teu corpo arqueia-se debaixo do meu. A tua respiração acelera, as veias do teu pescoço tornam-se salientes, o calor que irradia de ti sufoca-me, desidrata-me, incinera-me.
A minha boca desce, desce sempre. O teu velo púbico agora diante dos meus olhos. Analiso a topografia da tua vulva com a ponta da minha língua. Sabe a sal e a mar. Sabe à vida que há em ti. Demoro-me no teu corpo. Esquecemos os minutos que passam, imóveis. Todo eu me concentro, todo eu inteiro me focalizo num pequeno ponto de ti. Com a ponta dos meus dedos, detecto o sangue que te percorre, rápido, cada vez mais rápido. Com as minhas mãos, refreio o teu corpo que se me escapa.
Vou de encontro ao teu prazer. Tu lideras e eu sigo-te. Como se tivesse as tuas rédeas na minha boca, indico-te o caminho, lanço-te a galope. A tua boca abre-se num grito silencioso. O teu corpo levanta-se, catatónico. Levitas de desejo, ausentas-te de tudo. No breve instante em que ficas sozinha com o teu espasmo, com o teu prazer, és tu e só tu. Mesmo o meu corpo no teu é um mero detalhe, um acessório caricato daquilo que eu sou em ti.
Relaxas. De olhos fechados, o teu corpo descontrai-se como um polvo na pedra do cais. Levanto-me. Beijo-te, lenta e pausadamente. A minha boca sabe a ti, gosto de saber que te provas em mim. Devagar, devagarinho entro-te. Distancio-me, vou e venho. O teu corpo reage ao meu. Pressão aqui, toque ali. Vira-te, mexe-te, vem, assim, mais. Sussuro-te comandos ao ouvido. Palavras doces, palavras duras. Não páro, não paramos.
Minutos.
Horas.
Vezes sem conta repetimos os movimentos adamíticos, a posse, o desejo, está tudo aqui. Mas, quando me deito a teu lado, estou ausente. É como se me apetecesse estar noutro lugar qualquer, fora daqui. Em qualquer lado, menos aqui."
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