quinta-feira, abril 13, 2006

Cada indivíduo não pode chegar até si mesmo senão através dessas três unidades a que pertence: o mundo, aquela das cinco partes do mundo onde está a sua terra, e a sua terra.
A terra de cada indivíduo não está limitada pelas legítimas fronteiras físicas e políticas do seu próprio território, é além disso um pedaço determinado de uma quinta parte do mundo inteiro. E o indivíduo está tão longe de si mesmo que para chegar até si tem primeiro que dar a sua volta ao mundo, completa, até ao ponto de partida. E todo aquele que queira encontrar dentro de si mesmo a sua própria personalidade, ficará romanticamente sozinho no meio das multidões, na mais terrível solidão de todos os tempos, uma solidão onde o próprio deserto está cheio de arranha-céus e as ruas inundadas de gente!
...
O indivíduo nunca pertenceu a si mesmo.
...
O destino não é coisa que se saiba pelas sinas, nem obra do acaso, nem artes para adivinhos ou leitores de palmas de mão, nem nada que se modifique com caprichos da fatalidade. O destino de cada indivíduo neste mundo está por cima do seu próprio caso pessoal.

Almada Negreiros, in 'Ensaios'

3 comentários:

miguel. disse...

Ao caminhar na minha grande volta a esse mundo, perdi-me...
"perdi-me dentro de mim
porque eu era labirinto
e hoje, quando me sinto,
é com saudades de mim."

ana marta disse...

Sophia, certo?

miguel. disse...

"Dispersão"
de Mário de Sá-Carneiro

Um dos meus poemas preferidos...