Era madrugada. 4 da manhã, suponho.
Desisti do rodopio estéril que me faria dormir. Levantei-me. Precisava não sentir.
Vontade inglória essa, que as palavras ditas pairavam por todo o lado.
De repente, com uma nitidez cortante vi rostos de outro tempo. Caras que passaram sem deixar marca, como quase todas.
Senti a irremediável verdade da solidão que embala a nossa existência e o vazio tornou-se esmagador de tão verdadeiro.
Ao caminho, àquele que se redefine a cada segundo, que a cada momento passado foi um futuro possível a desvanecer-se, há quem lhe chame vida.
Fica sempre a dúvida de como tudo seria se tivesse sido diferente. Se o caminho tivesse sido outro, se a variável da equação tivesse sido outra, proporcionando outro resultado.
Sós. Querendo não estar. Obrigando-nos a ser felizes à força para não nos deixarmos morrer no tédio de estar só, conosco. O medo terrível do tempo que a solidão proporciona para nos pensarmos.
E preferimos não estar a estar sós. Preferimos rodear-nos de manequins inertes, damas e cavalheiros de companhia aos quais só temos que sorrir para nos sentirmos menos... sós.
Como num moinho de água, nas nossas mãos como pás, escorre sempre gente cuja forma permanece a mesma. No fundo a sua passagem indelével enche-nos os dias para que o tédio seja apenas uma palavra.
Pelo caminho dão-nos também golpes, secos, no estômago. Desses guardamos a memória da forma do punho cerrado que um dia nos procurou.
Eu guardo a marca que fica no corpo e gosto do travo metálico de sangue na boca. Sempre ajuda a não esquecer o tempo que passou, que foi lá atrás.
Vontade de correr ao lado do tempo. Ido. Futuro. De não permanecer aqui, de não correr para trás, de não alcançar o que está à frente. Ficar. Abraçar cada partícula e existir num vazio temporal que se prolongue no momento. E que tudo pare e que eu não seja. Por oposição a mim.
Cimente-se então a mentira que nos tolda a vista e que nos põe um sorriso nos lábios. Agarrêmo-nos então às "verdades nossas" em que habitamos. Talvez o caminho seja mais rápido assim.
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Desisti do rodopio estéril que me faria dormir. Levantei-me. Precisava não sentir.
Vontade inglória essa, que as palavras ditas pairavam por todo o lado.
De repente, com uma nitidez cortante vi rostos de outro tempo. Caras que passaram sem deixar marca, como quase todas.
Senti a irremediável verdade da solidão que embala a nossa existência e o vazio tornou-se esmagador de tão verdadeiro.
Ao caminho, àquele que se redefine a cada segundo, que a cada momento passado foi um futuro possível a desvanecer-se, há quem lhe chame vida.
Fica sempre a dúvida de como tudo seria se tivesse sido diferente. Se o caminho tivesse sido outro, se a variável da equação tivesse sido outra, proporcionando outro resultado.
Sós. Querendo não estar. Obrigando-nos a ser felizes à força para não nos deixarmos morrer no tédio de estar só, conosco. O medo terrível do tempo que a solidão proporciona para nos pensarmos.
E preferimos não estar a estar sós. Preferimos rodear-nos de manequins inertes, damas e cavalheiros de companhia aos quais só temos que sorrir para nos sentirmos menos... sós.
Triste existência a nossa.
Como num moinho de água, nas nossas mãos como pás, escorre sempre gente cuja forma permanece a mesma. No fundo a sua passagem indelével enche-nos os dias para que o tédio seja apenas uma palavra.
Pelo caminho dão-nos também golpes, secos, no estômago. Desses guardamos a memória da forma do punho cerrado que um dia nos procurou.
Eu guardo a marca que fica no corpo e gosto do travo metálico de sangue na boca. Sempre ajuda a não esquecer o tempo que passou, que foi lá atrás.
Vontade de correr ao lado do tempo. Ido. Futuro. De não permanecer aqui, de não correr para trás, de não alcançar o que está à frente. Ficar. Abraçar cada partícula e existir num vazio temporal que se prolongue no momento. E que tudo pare e que eu não seja. Por oposição a mim.
Cimente-se então a mentira que nos tolda a vista e que nos põe um sorriso nos lábios. Agarrêmo-nos então às "verdades nossas" em que habitamos. Talvez o caminho seja mais rápido assim.
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"E a suprema glória
disto tudo, meu amor,
é pensar que talvez
isto não seja verdade,
nem eu o creio verdadeiro"
bernardo soares
disto tudo, meu amor,
é pensar que talvez
isto não seja verdade,
nem eu o creio verdadeiro"
bernardo soares
3 comentários:
Sob uma pancada sangro...
Bate-me à porta, em mim, primeiro devagar.
Sempre devagar, desde o começo, mas ressoando depois,
ressoando violentamente pelos corredores
e paredes e pátios desta própria casa
que eu sou. Que eu serei até não sei quando.
É uma doce pancada à porta, alguma coisa
que desfaz e refaz um homem. Uma pancada
breve, breve -
e eu estremeço como um archote. Eu diria
que cantam, depois de baterem, que a noite
se move um pouco para a frente, para a eternidade.
Eu diria que sangra um ponto secreto
do meu corpo, e a noite estala imperceptivelmente
ou se queima como uma face. Escuta:
que a noite vagarosamente se queima
como a minha face.
Herberto Helder
tanta cor sentimento pensamento
Era de madrugada e o torpor do alcool já se faz sentir há muito. A toda a hora vejo caras que passaram e todas deixaram marcas. Algumas deixaram belas tatuagens enquanto outras negras cicatrizes que mutilaram o belo coração. Depois de horas de imersão sobre multidões eis que chega a hora de voltar ao "maravilhoso" mundo da solidão. A verdadeira existencia só existe entre os meus lençois. Quando me posso deixar levar por todos os meus sonhos egoistas que não partilho com mais ninguem. A vida... Essa deixo para o intervalo dos sonhos.
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