1986. Andava na escola primária. Exactamente na primeira classe.
Vivíamos numa vivenda perto de Monte Gordo, a 5 Kilómetros de Vila Real de Santo António.
Lembro-me das grandes portadas em vidro que tornavam todo o espaço luminoso, da lareira qua a minha mãe teimava em não acender por nós sermos pequenas. Dos inúmeros vasos que a minha mãe coleccionava, da cozinha cor-de-laranja, da sala preta e vermelha, do cheiro a terra quando chovia, do Sol, da Ana e da Beta que vinham passar férias, das férias de Verão e das voltas de bicicleta, dos joelhos esfolados... e mil coisas mais...
Mas sobretudo lembro-me da cama dos meus pais.
A minha mãe entrava no trabalho às 8. O meu pai às 9. A minha mãe arranjava-me, dava-me o pequeno almoço e saía deixando-me um beijo na bochecha. Entretanto eu esperava pelo meu pai, que me prometia não se atrasar para me deixar na escola às 8 e meia.
O meu pai sempre teve um problema com horários, que acho que acabei por herdar.
Chegava à escola quase às nove da manhã. Entretanto tinha esperado uma eternidade pelo meu pai.E havia um ritual da espera:deitava-me e empurrava os joelhos para o peito para ver se aquela dor de barriga passava.Eram os meus nervos,pequeninos, já a prever o ralhete que a professora me ía dar, por ser sempre a última a chegar à escola.
Dessas temporadas de espera lembro o Por Este Rio Acima do Fausto, que o meu pai ouviu insistentemente durante uns longos meses, sendo que acabou por ser um dos meus discos preferidos de sempre.
O meu pai acabou por pedir à D. Luísa para não me ralhar, que a culpa dos atrasos era dele e que eu dependia dele para me trazer à escola.
Hoje lembrei-me disto... e tive saudades .