domingo, novembro 26, 2006

sobre o tejo um apito

cesariny e o retrato rotativo de genet em lisboa

ao lusco-fusco mário
quando a branca égua flutua ali ao príncipe real
as bichas visitam-nos com suas cabeças ocas
em formas de pêndulo abrem as bocas para mostrar
restos de esperma viperino debaixo das línguas
e com o dedo esticado acusam-nos de traição

sabemos que estamos vivos ou condenados a este corpo
cela provisória do riso onde leonores e chulos
trocam cíclicos olhares de tesão e
ficamos assim parados
sem tempo
o desejo diluindo-se no escuro à espera
que um qualquer varredor da alba anuncie
o funcionamento da forca para a última erecção

lá fora mário
longe da memória lisboa ressoa esquecendo
quem perdeu o barco das duas ou se aquele que caminha
será atropelado ao amanhecer ou se o soldado
que falhou o degrau do eléctrico para a ajuda fode
ou ajuda ou não ajuda e se lisboa num vão de escadas
é isto

tão triste mário sobre o tejo um apito

al berto, a vida secreta das imagens


"ama como a estrada começa." m.cesariny

1 comentário:

Anónimo disse...

al berto atinge-me com a força de um meteoro.