sexta-feira, fevereiro 16, 2007

Uma casa vazia. Um jardim onde há muito a vida se abandonou ao tempo.
Cada partícula do ser foge-me por entre os dedos. E sinto a clareza da solidão. E a maré sobe. Espero por mim em cada esquina da casa. Espero por um sentir antigo que não me lembro. Espero por vozes de conforto, por mantas de braços que me arroupem e nunca vêm. Espero por um sentido para a coisa última que é a vida... e que este frio passe. Quero saber gritar, quero saber rir de novo. Quero trocar o cinzento pela pureza do branco. Quero de volta a minha inocência. Quero as memórias amareladas da minha infância e o eco do tempo em que os risos brotam como o Sol ao despontar do dia. Quero trocar o sépia pelo vermelho.
Mas encerro o mundo em mim. E a cada minuto a sala encolhe e me aperta o corpo. Quero descolar os lábios, quero rasgar o rosto com um sorriso. Mas a minha pele tornou-se de betão e luto contra um rosto, estático e cinzento.
Não sinto o jardim nem as flores, nem a maré que sobe perto desta casa. Nada. A não ser a certeza cortante de que me deixo, a cada minuto, abandonar à solidão.

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