quinta-feira, novembro 29, 2007

Há já muito tempo que pretendo escrever sobre a duração
não um ensaio, uma peça de teatro ou história
-a duração exige a poesia.
Quero interrogar-me num poema,
lembrar-me num poema,
afirmar e conservar num poema
o que é a duração.

A duração é algo que já tantas vezes senti, nos prenúncios
da Primavera de Fontaine Sainte-Marie,
na brisa nocturna da Porte d'Auteuil,
ao sol estival da região do Karst,
a caminho da casa, às primeiras horas da madrugada,
após uma comunhão com o meu ser.

Essa duração o que foi?
Foi um espaço de tempo?
Algo de mensurável? Uma certeza?
Não, a duração foi um sentimento
o mais fugidío de todos os sentimentos,
que passa muitas vezes mais depressa que um instante
imprevisível, impossível de dirigir,
impalpável, imensurável.
E, no entanto, teria podido, com a sua ajuda,
rir-me para qualquer adversário e desarmá-lo,
fosse ele qual fosse,
teria transformado a opinião
de que sou uma pessoa má
na convicção profunda:
"Ele é bom!",
e se houvesse um deus,
o sentimento da duração seria há muito seu filho.
[...]




peter handke, poema à duração

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