segunda-feira, junho 15, 2009



A propósito da explosão de infraestruturas culturais e da oferta de "cultura" que o nosso país tem vindo a assistir nos últimos tempos:


"Já a democratização do acesso aos bens culturais cedo se transformou em massificação (como, aliás, também sucedeu com a educação), e isto porque partia de um pressuposto errado: não basta que todos os cidadãos tenham as portas abertas e franquias gratuitas para usufruírem dos bens culturais com prazer e com justiça e, consequentemente, para se tornarem melhores, mais cultos, mais cidadãos. A recepção de uma obra de arte, qualquer que seja a sua origem (popular ou erudita), requer chaves de leitura, mecanismos de habituação e simpatias estéticas que são independentes das expectativas que cada um terá face ao que vê ou lê ou ouve e face aos possíveis níveis de leitura; na ausência disto, a massificação (e o seu aproveitamento político comercial) equivale à banalização da recepção da obra e do seu impacto naqueles que passaram a consumir indiferenciadamente e, em regra, os produtos "de mais baixa qualidade".


in "À Procura da Escala, cinco exercícios disciplinados sobre cultura contemporânea" António Pinto Ribeiro, Cotovia , 2009

2 comentários:

Onun disse...

Interessante... massificação, falta de massa critica, consumo sem qualquer tipo de produto, baixa e alta qualidade artistica....

... acima de tudo, falta de uma massa crítica que pense o que vê e questione as soluções dos programadores, não?

ana marta disse...

exacto Nuno. É preciso dotar o público de instrumentos para que o olhar crítico cresça, tornando-se este num exercício quotidiano. só desse exercício poderá nascer uma sociedade mais apta e consciente daquilo que a rodeia.
É incrível como as pessoas não percebem que aquilo que muitas vezes é posto nas programações de teatros e centros culturais (que rebentaram nos últimos tempos neste país que nem cogumelos) não serve os seus interesses nem sequer se insere num esquema programático para ditos espaços. Servem muitas vezes (se bem que há algumas excepções a isto) os interesses de uma indústria de "pão e circo", que é naquilo em que a cultura, sobretudo nas capitais que se encontram fora da malha dos grandes centros urbanos - eixo Lisboa/ Porto, tem sido transformada em Portugal.