quarta-feira, julho 22, 2009




Cidade

Cidade, rumor e vaivém sem paz das ruas,
Ó vida suja, hostil, inutilmente gasta,
Saber que existe o mar e as praias nuas,
Montanhas sem nome e planícies mais vastas
Que o mais vasto desejo,
E eu estou em ti fechada e apenas vejo
Os muros e as paredes, e não vejo
Nem o crescer do mar, nem o mudar das luas.

Saber que tomas em ti a minha vida
E que arrastas pela sombra das paredes
A minha alma que fora prometida
Às ondas brancas e às florestas verdes.



Sophia de Mello Breyner Andresen
Obra Poética I
Caminho

1 comentário:

menina do mar disse...

...mesmo triste, não deixa de ser delicioso!
Grande Sophia :)