terça-feira, abril 27, 2010


Era madrugada. 4 da manhã, suponho.
Desisti do rodopio estéril que me faria dormir. Levantei-me. Precisava não sentir.
Vontade inglória essa, que as palavras ditas pairavam por todo o lado.

De repente, com uma nitidez cortante vi rostos de outro tempo. Caras que passaram sem deixar marca, como quase todas.
Senti a irremediável verdade da solidão que embala a nossa existência e o vazio tornou-se esmagador de tãoverdadeiro.

Ao caminho, àquele que se redefine a cada segundo, que a cada momento passado foi um futuro possível a desvanecer-se, há quem lhe chame vida.
Fica sempre a dúvida de como tudo seria se tivesse sido diferente. Se o caminho tivesse sido outro, se a variável da equação tivesse sido outra, proporcionando outro resultado.

SósQuerendo não estar. Obrigando-nos a ser felizes à força para não nos deixarmos morrer no tédio de estar sóconosco. O medo terrível do tempo que a solidão proporciona para nos pensarmos.
E preferimos não estar a estar sós. Preferimos rodear-nos de manequins inertesdamas e cavalheiros de companhia aos quais só temos que sorrir para nos sentirmos menos... sós.
Triste existência a nossa.

Como num moinho de águanas nossas mãos como pásescorre sempre gente cuja forma permanece a mesma. No fundo a sua passagem indelével enche-nos os dias para que o tédio seja apenas uma palavra.
Pelo caminho dão-nos também golpessecos, no estômagoDesses guardamos a memória da forma do punho cerrado que um dia nos procurou.
Eu guardo a marca que fica no corpo e gosto do travo metálico de sangue na bocaSempre ajuda a não esquecer o tempo que passou, que foi lá atrás.

Vontade de correr ao lado do tempoIdoFuturoDe não permanecer aquide não correr para trásde não alcançar o que está à frenteFicarAbraçar cada partícula e existir num vazio temporal que se prolongue no momento. E que tudo pare e que eu não seja. Por oposição a mim.

Cimente-se então a mentira que nos tolda a vista e que nos põe um sorriso nos lábiosAgarrêmo-nos então às "verdades nossas" em que habitamosTalvez o caminho seja mais rápido assim.

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"E a suprema glória 
disto tudo, meu amor,
é pensar que talvez 
isto não seja verdade,
nem eu o creio verdadeiro"
bernardo soares


(era 26 de Abril de 2006 e ainda sinto tudo como ali)

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