É na faculdade de mentir, que caracteriza a maior parte dos homens actuais, que se baseia a civilização moderna. Ela firma-se, como tão claramente demonstrou Nordau, na mentira religiosa, na mentira política, na mentira económica, na mentira matrimonial, etc... A mentira formou este ser, único em todo o Universo: o homem antipático. Actualmente, a mentira chama-se utilitarismo, ordem social, senso prático; disfarçou-se nestes nomes, julgando assim passar incógnita. A máscara deu-lhe prestígio, tornando-a misteriosa, e portanto, respeitada. De forma que a mentira, como ordem social, pode praticar impunemente, todos os assassinatos; como utilitarismo, todos os roubos; como senso prático, todas as tolices e loucuras.
Teixeira de Pascoaes, in "A Saudade e o Saudosismo"
"Somos tão pouco vãos que a estima de cinco pessoas, vá lá seis, nos diverte e nos honra.(...) Os que escrevem em louvor da glória querem ter a glória de ter escrito bem. Os que lêem querem a glória de ter lido."
Isidore de Lautréamont, "Poesias"
segunda-feira, maio 28, 2007
Tenho muitas palavras por saber dizer. Hoje. E todas imensas, como tudo o que é imenso no mundo: as montanhas, os mares, a terra que nos ampara os tombos, o ar que cria o vento... Sei essas palavras de horas cheias. Aprendi-as com os pés cansados do caminho. Aprendi-as com as mãos que repousam agora, depois do afago doce, satisfeitas com o estilhaço da pele. Mas não as sei na fonética porque são palavras mudas. Agráficas, que só as materializo em golfadas de ar. Nasceram de unhas, cabelos e de um Verão numa roleta-russa.
Nasceram, as palavras grandes, de dedos esguíos que diziam
outras palavras em fundo negro. Tenho o dicionário para elas, o reservatório certo: os meus olhos. Não as quero ver corrompidas pela acústica nem em vandalismo gráfico.
Quero escrevê-las como até aqui: suspensas nos fins de tarde
There's a black tinted sunset with the prettiest of skies Lay back,lay back, rest your head on my thighs There is some awful action that just breathes from my hand Just breaths from a deed so exquisetly grand
And you are always on my mind
Well, I would not have moved if I knew you were here Its some special action with motives unclear Now you'll haunt me, you'll haunt me Till I've paid for what I've done It's a payment which precludes the having of fun
And you are always on mind But hello, I've got a new partner riding with me I'v got a new partner, hello
Now the sun's fading faster, we're ready to go There's a skirt in the bedroom that's pleasantly low And the loons on the moor, the fish in the flow
And my friends, my friends still will
whisper hello We all know what we know, it's a hard swath to mow When you think like a hermit you forget what you know
And you are always on my mind I've got a new partner, riding with me I've got a new partner now
will oldham (new partner) cantado pela voz de mark kozelek
I'm so happy you called I really needed a break From all the people I see All the people I spend time with
Where did my summer go The week that was canceled Was my only chance To get out of this place
So how have you been I heard about your problem At the end of this road A common solution
My favourite thing about you Please don't get me wrong How natural it feels Five Minutes without talking
Chama-se Mat Weedle (deve ser irmão do Iron & Wine, pelo menos a julgar pela barba) e, em conjunto com Jessie Young e Daniel Zehring, dá voz aos Obadiah Parker. Fazem folk desde o Arizona.
Aqui mais informações sobre a banda. Para já, a cover parece um bom cartão de visita. A ver (e ouvir) ...
Mandaste-me dizer, No teu bilhete ardente, Que hás-de por mim morrer, Morrer muito contente. Lançaste no papel As mais lascivas frases; A carta era um painel De cenas de rapazes! Ó cálida mulher, Teus dedos delicados Traçaram do prazer Os quadros depravados!
Contudo, um teu olhar
É muito mais fogoso, Que a febre epistolar Do teu bilhete ansioso: Do teu rostinho oval Os olhos tão nefandos Traduzem menos mal Os vícios execrandos. Teus olhos sensuais Libidinosa Marta, Teus olhos dizem mais Que a tua própria carta. As grandes comoções
Tu, neles, sempre espelhas; São lúbricas paixões As vívidas centelhas... Teus olhos imorais, Mulher, que me dissecas, Teus olhos dizem mais,
Que muitas bibliotecas!
Lúbrica, Cesário Verde_ Antologia de Poesia Erótica e Satírica
quarta-feira, maio 16, 2007
Queria saber o sabor verdadeiro das palavras. Espalhá-las pelas ruas que cruzo. Dizer por aí que o tempo me queima o coração. Morri de esperar pelos ensinamentos dos espelhos e as minhas mãos perderam a força na procura de ti. Já não tenho o ímpeto do grito que me empurrava para a procura. As minhas palavras sucumbiram ao caminho.
Sei de um corpo de folhas verdes. O meu. Corria ao encontro de carícias do vento quando o Sol era novo a cada hora. Vivia a ânsia cortante "de tudo fecundar". Hoje ouço os minutos na minha boca. Marquei encontros semanais com o ruído de um comboio e a máquina imprime na minha vida o artifício da ilusão.
Das minhas mãos sai, soletrado, u-m-p-u-n-h-a-d-o-d-e n-a-d-a.
I know it's out of fashion And a trifle uncool But I can't help it I'm a romantic fool It's a habit of mine To watch the sun go down On Echo beach, I watch the sun go down
From nine till five I have to spend my time at work The job is very boring, I'm an office clerk The only thing that helps pass the time away Is knowing I'll be back at Echo Beach some day
On a silent summer evening The sky's alive with light Building in the distance Surrealistic sight On Echo Beach Waves make the only sound On Echo Beach There's not a soul around
Echo Beach Far away in time
(vantagens da vinda para sul)
martha & tha muffins - echo beach - do ano em que nasci
Ao lado do homem vou crescendo Defendo-me da morte quando dou Meu corpo ao seu desejo violento E lhe devoro o corpo lentamente Mesa dos sonhos no meu corpo vivem Todas as formas e começam Todas as vidas Ao lado do homem vou crescendo E defendo-me da morte povoando de novos sonhos a vida.
Alexandre O'neill
* Dói-me o corpo da poeira do caminho. Do fado do silêncio nascerá, um dia, a eternidade na tua voz.
Cerca de 60 cartazes, de circulação e distribuição internacional, do período do cinema mudo (1904-1916) vão estar em exposição na Cordoaria Nacional (Torreão Nascente) em Lisboa, de quinta-feira até 24 de Junho. A colecção apresentada reúne o maior núcleo conhecido de cartazes de grandes dimensões (2,80m x 3,20m), com predominância de filmes europeus, numa altura em que se assistia ao despontar do cinema norte-americano. França, Itália, Dinamarca, Suécia, Alemanha e Estados Unidos são os países que têm filmes representados nesta mostra. O cartaz mais antigo é de 1904 e apresenta o filme "La Grève", produzido pela Pathé. Esta colecção de cartazes foi reunida por Joaquim António Viegas (1874-1946), cenógrafo, que trabalhou em várias salas de espectáculos e terá conseguido obter cartazes que vinham para distribuição. Depois da morte de Joaquim António Viegas, o seu filho doou a colecção ao Museu Municipal de Faro, cidade onde o cenógrafo nascera.
Assim, um professor na Universidade do Kansas, explicou aos seus alunos (e ao mundo) o que é a Web 2.0. O poder de síntese e o poder de relançar o debate sobre a dicotomia Homem vs Máquina surge à distância de um "clic". Repensar os valores pelos quais nos regemos, "hi-(5)fivizar" as relações humanas, "youtubar" o nosso quotidiano.
Democratizou-se o acesso a tudo : à imagem, ao som, às letras, ao sonho e a ver outros mundos (possíveis ou não) ... tudo chega a todos. As maiores pérolas e as criações mais miseráveis. Democracia e liberdade, dirão uns. Expomo-nos cada vez mais a uma comunidade virtual, temos amigos imaterias (que só existem num pc), falamos com amigos materiais que existem noutras latitudes. Aproximamo-nos de uns, distanciamo-nos de outros; falamos com teclas, escondemo-nos atrás de blogs. Muitos assumimos, no mundo cibernético, a forma que gostaríamos de ter, damos a densidade às palavras que não temos coragem de dar na rotina dos nossos dias. Somos outros.
Dão-nos tudo sem dar nada. Mas não nos ensinam a ser críticos nem nos oferecem a capacidade de destrinça para avaliar o que nos é disposto nesta bandeja que é a internet. Cabe-nos a nós saber fazê-lo. Cabe-nos a nós, agora, (re)escrever a ética e a moral, o bem e o mal, o que tem ou não qualidade... uma longa caminhada.
Como a máquina nos mudou, como nos ajudou a esconder-nos atrás de um ecrã.
A máquina assumiu a forma de boca, deu liberdade. Deixa-nos dizer muito, à espera que alguém nos dedique atenção, que nos retire do anonimato sem termos que dar o nome. São os quinze minutos de fama que se perpetuam numa visibilidade aparente, na invisibilidade do rosto... A máquina deu-nos braços e retirou-nos hábitos. Deus ex Machina.
há-de flutuar uma cidade no crepúsculo da vida pensava eu... como seriam felizes as mulheres à beira mar debruçadas para a luz caiada remendando o pano das velas espiando o mar e a longitude do amor embarcado
por vezes uma gaivota pousava nas águas outras era o sol que cegava e um dardo de sangue alastrava pelo linho da noite os dias lentíssimos... sem ninguém
e nunca me disseram o nome daquele oceano
esperei sentada à porta... dantes escrevia cartas punha-me a olhar a risca de mar ao fundo da rua assim envelheci... acreditando que algum homem ao passar se espantasse com a minha solidão
(anos mais tarde, recordo agora, cresceu-me uma pérola no coração. mas estou só, muito só, não tenho a quem a deixar.)
um dia houve que nunca mais avistei cidades crepusculares e os barcos deixaram de fazer escala à minha porta inclino-me de novo para o pano deste século recomeço a bordar ou a dormir tanto faz sempre tive dúvidas que alguma vez me visite a felicidade