Um dia fiz três conjuntos de dez anos. Juntei-os em grupos de tempo e pousei-os no degrau da porta de minha casa. Pus-me a olhar esse tempo e tentei perceber o que me saía do coração.
Vi aqueles tempos ali pousados, repletos de horas, dias e meses e fitei-os como quem observa um filho. Sentia orgulho daquele tempo, de como ele tinha crescido. Lembrei minutos dolorosos, as horas solarengas do coração cheio ... lembrei as marcas que o tempo deixou e reconheci-as no espelho onde me olho.
Desse tempo, filho da vida passada, além de orgulho, senti o medo de quem sabe que agora o caminho faz-se mais sozinho. O chão pisa-se, a cada passo, com mais força. Do cimo deste degrau, ao lado dos meus três conjuntos de dez anos, e onde o mundo me parecia já diferente, vejo-te.
Vejo-te melhor quando olho para dentro e tenho menos medo. Pareces mais bonita por te vestires da mulher serena que ainda não és. No coração encontro a saudade das tua alma incerta. Mas corremos ainda as duas, lado a lado. Trocamos piscares de olho e, no silêncio, rimo-nos cúmplices daqueles que dizem: - "Estás na mesma!"
Vejo-te melhor quando olho para dentro e tenho menos medo. Pareces mais bonita por te vestires da mulher serena que ainda não és. No coração encontro a saudade das tua alma incerta. Mas corremos ainda as duas, lado a lado. Trocamos piscares de olho e, no silêncio, rimo-nos cúmplices daqueles que dizem: - "Estás na mesma!"
Partilhamos este coração, "independente" como o baptizaram um dia, roubando o nome à música.
O tempo passa e o coração não deixará de bater.
E no bolo não pusemos velas, que o tempo não sabe soprar.