sexta-feira, março 31, 2006
segunda-feira, março 27, 2006
domingo, março 26, 2006
A matéria das palavras
Estamos aqui. Interrogamos símbolos persistentes.
É a hora do infinito desacerto-acerto.
O vulto da nossa singularidade viaja por palavras
matéria insensível de um poder esquivo.
Confissões discordantes pavimentam a nossa hesitação.
Há uma embriaguês de luto em nossos actos-chaves.
Aspiramos à alta liberdade
um bem sempre suspenso que nos crucifica.
Cheios de ávidas esperanças sobrevoamos
e depois mergulhamos nessa outra esfera imaginária.
Com arriscada atenção aspiramos à ditosa notícia de uma
perfeição
especialista em fracassos.
Ana Hatherly
sábado, março 25, 2006
From : ?. <_._.@hotmail.com>
Friday, March 24, 2006 9:20 PM
To :
"ana marta"
Subject :
Envio de um Poema - 24/3/2006
Inbox
HÁ PALAVRAS QUE NOS BEIJAM
Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca.
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.
Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto;
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.
De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas inesperadas
Como a poesia ou o amor.
(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído
No papel abandonado)
Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.
Alexandre O'Neill (1924-1986)Poesias Completa
no meio de tanto desalento, obrigada ... quem quer que sejas!
quarta-feira, março 22, 2006
domingo, março 19, 2006
Carta a meus filhos sobre os fuzilamentos de Goya
Ao rosto vulgar dos dias
Monstros e homens lado a lado,
Não à margem, mas na própria vida.
Absurdos monstros que circulam
Quase honestamente.
Homens atormentados, divididos, fracos.
Homens fortes, unidos, temperados.
*
Ao rosto vulgar dos dias,
A vida cada vez mais corrente,
As imagens regressam já experimentadas,
Quotidianas, razoáveis, surpreendentes.
*
Imaginar, primeiro, é ver.
Imaginar é conhecer, portanto agir.
sexta-feira, março 17, 2006
quinta-feira, março 16, 2006
just wondering...
Could it be three simple words or the fear of being overheard.
What's wrong? Let her in on your secret heart.
Secret heart, why so mysterious? Why so sacred, why so serious...
Maybe you're just acting tough, maybe you're just not bad enough.
What's wrong? Let her in on your secret heart.
This very secret that you're trying to conceal is the very same one you're dying to reveal.Go tell her how you feel.
Secret heart, come out and share it. This loneliness, few can bear it.
Could it have something to do with admitting that you just can't go through it alone!
Let her in on your secret heart.
This very secret that you're trying to conceal is the very same one that you're dying to reveal.
Go tell her how you feel, this very secret.
Go out and share it, this very secret.
quarta-feira, março 15, 2006
Gostar de homens # 2
terça-feira, março 14, 2006
domingo, março 12, 2006
The highest as the lowest form of criticism is a mode of autobiography.
Those who find ugly meanings in beautiful things are corrupt without being charming. This is a fault.
Those who find beautiful meanings in beautiful things are the cultivated.
For these there is hope. They are the elect to whom beautiful things mean only beauty.
There is no such thing as a moral or an immoral book. Books are well written, or badly written. That is all.
[...] The moral life of man forms part of the subject-matter of the artist, but the morality of art consists in the perfect use of an imperfect medium.
No artist desires to prove anything. Even things that are true can be proved. No artist has ethical sympathies. An ethical sympathy in an artist is an unpardonable mannerism of style.
No artist is ever morbid. The artist can express everything.
Thought and language are to the artist instruments of an art.
Vice and virtue are to the artist materials for an art.
From the point of view of form, the type of all the arts is the art of the musician. From the point of view of feeling, the actor's craft is the type. All art is at once surface and symbol.
Those who go beneath the surface do so at their peril.
Those who read the symbol do so at their peril.
It is the spectator, and not life, that art really mirrors. Diversity of opinion about a work of art shows that the work is new, complex, and vital. When critics disagree, the artist is in accord with himself. We can forgive a man for making a useful thing as long as he does not admire it.
The only excuse for making a useless thing is that one admires it intensely.
All art is quite useless.
Oscar Wilde, The Portrait of Dorian Gray (prefácio)
quinta-feira, março 09, 2006
The roof is on fire...
No meio do cheiro a queimado que enchia o prédio, mais a névoa que se levantara, fomos saindo sem pensar. Só respondendo às palavras ditas.
Na rua, à chuva, de pijama e chinelos viam-se as labaredas sair da casa que divide parede conosco. Os vidros rebentavam, as labaredas eram cada vez mais altas e entre choros e palavras desconexas parecia que os pedacinhos das nossas vidas iam também arder. Tudo.
" O fogo não passou porque não tinha que passar. Estava escrito" dizia o bombeiro.
Tudo se cruzou nas nossas cabeças. Se o fogo tivesse passado. E se estivessemos a dormir? E se as vizinhas estivessem a dormir?
O mundo gira à volta dos "se..?"
Mãe
E as palavras teimam em se ausentar entre nós ou cravam-nos como punhais aguçados.
Fonte
II
No sorriso louco das mães batem as leves
gotas de chuva. Nas amadas
caras loucas batem e batem
os dedos amarelos das candeias.
Que balouçam. Que são puras.
Gotas e candeias puras. E as mães
aproximam-se soprando os dedos frios.
Seu corpo move-se pelo meio dos ossos filiais, pelos tendões
e órgãos mergulhados,
e as calmas mães intrínsecas sentam-se
na cabeças filiais.
Sentam-se, e estão ali num silêncio demorado e apressado,
vendo tudo,
e queimando as imagens, alimentando as imagens,
enquanto o amor é cada vez mais forte.
E bate-lhes nas caras, o amor leve.
O amor feroz.
E as mães são cada vez mais belas.
Pensam os filhos que elas levitam.
Flores violentas batem nas suas pálpebras.
Elas respiram ao alto e em baixo. São
silenciosas.
E a sua cara está no meio das gotas particulares
da chuva,
em volta das candeias. No contínuo
escorrer dos filhos.
As mães são as mais altas coisas
que os filhos criam, porque se colocam
na combustão dos filhos, porque
os filhos estão como invasores dentes-de-leão
no terreno das mães.
E as mães são poços de petróleo nas palavras dos filhos,
e atiram-se, através deles, como jactos
para fora da terra.
E os filhos mergulham em escafandros no interior
de muitas águas,
e trazem as mães como polvos embrulhados nas mãos
e na agudeza de toda a sua vida.
E o filho senta-se com a sua mãe à cabeceira da mesa,
e através dele a mãe mexe aqui e ali,
nas chávenas e nos garfos.
E através da mãe o filho pensa
que nenhuma morte é possível e as águas
estão ligadas entre si
por meio da mão dele que toca a cara louca
da mãe que toca a mão pressentida do filho.
E por dentro do amor, até somente ser possível
amar tudo,
e ser possível tudo ser reencontrado por dentro do amor.
herberto helder