Para aquelas mais distraidas este rapaz chama-se Fele (de Rafael) Martínez e entra em filmes como o Tesis, Abre los Ojos, Habla con ella, La Mala educación, Capitães de Abril (pois é !!) ... entre outros que eu não vi.
quarta-feira, março 15, 2006
terça-feira, março 14, 2006
Levantou-se, como noutro qualquer dia. Em gestos automáticos ritualizou a manhã. Num esquema mental planeou o dia e entrou no fervilhar da rua a transbordar vida.
Aquele dia sabia-lhe a tantos outros dias idos e trazia o travo de tantos ainda por vir.
Gostava de ficar a observar os rostos que passavam. Imaginar cada vida por trás de cada corpo. Esse exercício ajudava-a a pensar sobre si.
O sol batia-lhe agora nas costas e aquecia-lhe o corpo. Sentia-o. Sentia aquele corpo como uma limitação material de si. Definia-a. Aquele corpo finito pertencia-lhe.
Sentia-se bem. A ansiedade que a habitava parecia agora adormecida. Como uma anestesia que apazigua a dor.
O tempo que passava, aumentando a desconfiança, parecia-lhe já suficiente para derrubar silêncios incómodos.
Sabia que noutra situação seria diferente. Sentia que a barricada havia sido ela a erguê-la mas não tinha forças para a derrubar. A cada minuto a barreira crescia a olhos vistos.
Levantou-se, insegura, e mergulhou na rua, que fervia gente.
domingo, março 12, 2006
The artist is the creator of beautiful things. To reveal art and conceal the artist is art's aim. The critic is he who can translate into another manner or a new material his impression of beautiful things.
The highest as the lowest form of criticism is a mode of autobiography.
Those who find ugly meanings in beautiful things are corrupt without being charming. This is a fault.
Those who find beautiful meanings in beautiful things are the cultivated.
For these there is hope. They are the elect to whom beautiful things mean only beauty.
There is no such thing as a moral or an immoral book. Books are well written, or badly written. That is all.
[...] The moral life of man forms part of the subject-matter of the artist, but the morality of art consists in the perfect use of an imperfect medium.
No artist desires to prove anything. Even things that are true can be proved. No artist has ethical sympathies. An ethical sympathy in an artist is an unpardonable mannerism of style.
No artist is ever morbid. The artist can express everything.
Thought and language are to the artist instruments of an art.
Vice and virtue are to the artist materials for an art.
From the point of view of form, the type of all the arts is the art of the musician. From the point of view of feeling, the actor's craft is the type. All art is at once surface and symbol.
Those who go beneath the surface do so at their peril.
Those who read the symbol do so at their peril.
It is the spectator, and not life, that art really mirrors. Diversity of opinion about a work of art shows that the work is new, complex, and vital. When critics disagree, the artist is in accord with himself. We can forgive a man for making a useful thing as long as he does not admire it.
The only excuse for making a useless thing is that one admires it intensely.
The highest as the lowest form of criticism is a mode of autobiography.
Those who find ugly meanings in beautiful things are corrupt without being charming. This is a fault.
Those who find beautiful meanings in beautiful things are the cultivated.
For these there is hope. They are the elect to whom beautiful things mean only beauty.
There is no such thing as a moral or an immoral book. Books are well written, or badly written. That is all.
[...] The moral life of man forms part of the subject-matter of the artist, but the morality of art consists in the perfect use of an imperfect medium.
No artist desires to prove anything. Even things that are true can be proved. No artist has ethical sympathies. An ethical sympathy in an artist is an unpardonable mannerism of style.
No artist is ever morbid. The artist can express everything.
Thought and language are to the artist instruments of an art.
Vice and virtue are to the artist materials for an art.
From the point of view of form, the type of all the arts is the art of the musician. From the point of view of feeling, the actor's craft is the type. All art is at once surface and symbol.
Those who go beneath the surface do so at their peril.
Those who read the symbol do so at their peril.
It is the spectator, and not life, that art really mirrors. Diversity of opinion about a work of art shows that the work is new, complex, and vital. When critics disagree, the artist is in accord with himself. We can forgive a man for making a useful thing as long as he does not admire it.
The only excuse for making a useless thing is that one admires it intensely.
All art is quite useless.
Oscar Wilde, The Portrait of Dorian Gray (prefácio)
quinta-feira, março 09, 2006
The roof is on fire...
Dez da manhã. Uma voz doce acordou-me e disse " Ana vamos sair. A casa do lado está a arder".
No meio do cheiro a queimado que enchia o prédio, mais a névoa que se levantara, fomos saindo sem pensar. Só respondendo às palavras ditas.
Na rua, à chuva, de pijama e chinelos viam-se as labaredas sair da casa que divide parede conosco. Os vidros rebentavam, as labaredas eram cada vez mais altas e entre choros e palavras desconexas parecia que os pedacinhos das nossas vidas iam também arder. Tudo.
" O fogo não passou porque não tinha que passar. Estava escrito" dizia o bombeiro.
Tudo se cruzou nas nossas cabeças. Se o fogo tivesse passado. E se estivessemos a dormir? E se as vizinhas estivessem a dormir?
O mundo gira à volta dos "se..?"
No meio do cheiro a queimado que enchia o prédio, mais a névoa que se levantara, fomos saindo sem pensar. Só respondendo às palavras ditas.
Na rua, à chuva, de pijama e chinelos viam-se as labaredas sair da casa que divide parede conosco. Os vidros rebentavam, as labaredas eram cada vez mais altas e entre choros e palavras desconexas parecia que os pedacinhos das nossas vidas iam também arder. Tudo.
" O fogo não passou porque não tinha que passar. Estava escrito" dizia o bombeiro.
Tudo se cruzou nas nossas cabeças. Se o fogo tivesse passado. E se estivessemos a dormir? E se as vizinhas estivessem a dormir?
O mundo gira à volta dos "se..?"
Mãe
No dia da mulher lembrei-me dela, vezes sem conta.
E as palavras teimam em se ausentar entre nós ou cravam-nos como punhais aguçados.
E as palavras teimam em se ausentar entre nós ou cravam-nos como punhais aguçados.
Fonte
II
gotas de chuva. Nas amadas
caras loucas batem e batem
os dedos amarelos das candeias.
Que balouçam. Que são puras.
Gotas e candeias puras. E as mães
aproximam-se soprando os dedos frios.
Seu corpo move-se pelo meio dos ossos filiais, pelos tendões
e órgãos mergulhados,
e as calmas mães intrínsecas sentam-se
na cabeças filiais.
Sentam-se, e estão ali num silêncio demorado e apressado,
vendo tudo,
e queimando as imagens, alimentando as imagens,
enquanto o amor é cada vez mais forte.
E bate-lhes nas caras, o amor leve.
O amor feroz.
E as mães são cada vez mais belas.
Pensam os filhos que elas levitam.
Flores violentas batem nas suas pálpebras.
Elas respiram ao alto e em baixo. São
silenciosas.
E a sua cara está no meio das gotas particulares
da chuva,
em volta das candeias. No contínuo
escorrer dos filhos.
As mães são as mais altas coisas
que os filhos criam, porque se colocam
na combustão dos filhos, porque
os filhos estão como invasores dentes-de-leão
no terreno das mães.
E as mães são poços de petróleo nas palavras dos filhos,
e atiram-se, através deles, como jactos
para fora da terra.
E os filhos mergulham em escafandros no interior
de muitas águas,
e trazem as mães como polvos embrulhados nas mãos
e na agudeza de toda a sua vida.
E o filho senta-se com a sua mãe à cabeceira da mesa,
e através dele a mãe mexe aqui e ali,
nas chávenas e nos garfos.
E através da mãe o filho pensa
que nenhuma morte é possível e as águas
estão ligadas entre si
por meio da mão dele que toca a cara louca
da mãe que toca a mão pressentida do filho.
E por dentro do amor, até somente ser possível
amar tudo,
e ser possível tudo ser reencontrado por dentro do amor.
herberto helder
terça-feira, março 07, 2006
Seja a insatisfação o meu alimento último.
Sejam os rostos dos que passam essência de uma luz vazia, do despertar do nada.
As vozes que ouço e, silenciosas, me gritam aos ouvidos fazem-me preencher horas de vidas inócuas, onde tudo é asséptico, higienizado e perfeito.
E na podridão de existir seca-se um suspirar moribundo.
Lanço a mão e recolho um punhado de nada de sabor acre.
Cada passo dado é a queda plúmbea de mim. Tropeço no existir, baralho-me e não sei o Norte.
Corro na espera que a luz me trespasse e, num voo repentino, elevar-me para outra esfera
... longínqua.
quinta-feira, março 02, 2006
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